ENEM não deve ser o principal critério para avaliar uma escola

Publicado em: 11/10/2014
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Na segunda-feira (1º) as escolas públicas e particulares receberam as notas do Exame Nacional do Ensino Médio do ano passado (Enem 2013). As escolas terão um prazo para entrar com recurso caso queiram contestar a nota do “Enem por escola”, que leva a consideração a média dos alunos nas provas objetivas e na redação. A divulgação final das notas será em dezembro. Muitas escolas usam suas notas do exame para compará-las a outros colégios e formar um “ranking” informal das “melhores do Enem” para fazer marketing e autopromoção.

Muitos pais esperam esse “ranking” para avaliar ou até escolher a escola dos filhos. Alguns se dispõem a pagar altas mensalidades para garantir a vaga em colégios destacados nos primeiros lugares. Mas em que medida o desempenho no Enem pode ser um critério decisivo para matricular um filho?

A nota do Enem é, sem dúvida, um fator relevante. Afinal, as provas medem competências como capacidade de leitura e interpretação de textos, habilidade para expor argumentos, raciocinar e aplicar o conhecimento em situações da vida concreta. Além disso, o Enem é a porta de ingresso para muitas das universidades mais cobiçadas do país e conta na seleção para bolsas no exterior, como no Programa Ciência sem Fronteiras.

Mas esse não deve ser o único critério para avaliar uma escola, e nem mesmo o principal. A educação básica é algo mais amplo, que envolve outras dimensões da pessoa: ética, física, artística. Abrange a atitude empreendedora, a consciência cidadã, a inteligência emocional. O Enem não consegue medir muito sobre isso.

Além do mais, há que considerar que, de olho no ranking, existem colégios que criam todo tipo de artifício. Alguns, por exemplo, afastam os alunos reprovados, o que faz das suas turmas de ensino médio uma verdadeira “tropa de elite”. E há até os que se registram com CNPJ diferentes, para concorrer só com os melhores estudantes. Embora estes sejam casos isolados, podem mascarar o resultado e revestir a imagem da escola de uma qualidade que nem sempre existe.

Hoje, o “ranking” do Enem é também um espelho dos abismos socioeconômicos do país. Há exceções, mas em geral as escolas mais bem colocadas atendem alunos de famílias com muitos recursos, repletas de oportunidades de aprendizagem: vão ao teatro, têm livros em casa, viajam nas férias etc. Para esse aluno, o colégio é um prolongamento da casa. Ora, essas instituições, que trabalham com privilegiados, têm mais chances de ocupar os primeiros lugares. Em função disso, podem ser mais seletivas junto ao alunado. E cobram caro porque sabem que há um público disposto a pagar por isso. Está desenhado o círculo: escolas bem colocadas são frequentadas por elites sociais e intelectuais e o background cultural já coloca seus alunos em vantagem com relação aos demais.

Para não se tornar refém dessa lógica que ultrapassa critérios meramente educacionais, há que relativizar a importância dos rankings. Mais vale analisar o projeto pedagógico da instituição, verificando se combina com a família e o estudante. Conferir se o currículo inclui artes, leitura, esportes, música, tornando o ensino mais abrangente. Checar se a filosofia é inclusiva e a escola trabalha com todos os alunos, mesmo os que têm dificuldades. Colégios que aceitam esse desafio, sem excluir os “alunos-problema”, confiam na qualidade da educação que oferecem. A boa educação é a que combina excelência acadêmica com excelência humana. Em geral, os alunos destas escolas, voltadas para a formação integral, têm todas as condições de encarar com naturalidade tanto o Enem, como o ensino superior e a vida profissional.

Fonte: G1

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